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Birras são más ou saudáveis? Como lidar com estes momentos?

As birras são momentos de stress, tanto para crianças e quanto para os pais. Muitas vezes, estes momentos são associados a mau comportamento que deve ser reprimido. Mas serão as birras más para as crianças? O que devem os pais fazer?

22 Nov 2022 - 08:00

Birras são más ou saudáveis? Como lidar com estes momentos?

As birras são momentos de stress, tanto para crianças e quanto para os pais. Muitas vezes, estes momentos são associados a mau comportamento que deve ser reprimido. Mas serão as birras más para as crianças? O que devem os pais fazer?

Para muitos pais, as birras são um pesadelo: a criança chora, grita, esperneia, deixando-os sem saber o que fazer. No entanto, os especialistas alertam que, além de serem “normais”, as birras são importantes para o crescimento emocional da criança.

As birras são um mau sinal?

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“As birras não são más”, garante Inês Vaz Matos. A pediatra da unidade de neurodesenvolvimento no Centro Materno Infantil do Norte adianta que estes momentos “fazem parte do desenvolvimento normal das crianças”. Em declarações ao Viral, a especialista explica que “a maior parte das birras são processos normativos” que permitem à criança aprender a lidar com as emoções.

As birras podem ocorrer entre os 18 meses e os cinco anos, com o pico a ocorrer entre os dois e os três anos – razão pela qual se costuma apelidar esta idade de “os terríveis dois”. Nesta altura, “a criança ainda não desenvolveu mecanismos de autorregulação para reagir às frustrações”, prossegue a pediatra. Contudo, “à medida que vai crescendo e que aprende a lidar com estas emoções negativas, [as birras] vão diminuindo.”

Também Clementina Almeida, psicóloga e responsável pela clínica ForBabiesBrain by Clementina, avança que as birras “são boas para o desenvolvimento da criança e fazem parte do seu desenvolvimento cerebral”.

“O desenvolvimento cerebral é muito imaturo e a criança não tem capacidade de gerir as emoções, de se autorregular. Por isso, pode explodir quando é contrariada, quando fica frustrada ou não se consegue exprimir”, sustenta a especialista em psicologia infantil, sublinhando que as crianças nestas idades têm “pouco vocabulário e uma reduzida capacidade de se expressarem”.

A birra corresponde a uma sobrecarga do sistema que a impede de raciocinar durante um curto período. Geralmente, a birra divide-se em dois momentos: um primeiro de raiva e o outro de tristeza em que a criança se sente “como se tivesse sido abalroada por um camião”, aponta Clementina Almeida.

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“Uma birra não é só uma birra, é muito importante para o futuro da criança em termos de estabilidade emocional”, reforça.

Começou a birra. O que fazer?

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As birras são normalmente breves, podendo demorar alguns minutos até a criança voltar ao seu estado normal. Esta situação pode ser complicada de gerir para os pais. Por isso, as especialistas deixam alguns conselhos sobre como gerir estas explosões emocionais.

Tanto Inês Vaz Matos quanto Clementina Almeida aconselham os pais a manterem-se calmos e tranquilos durante as birras, mesmo estas sendo situações que podem causar exasperação nos cuidadores. A postura adotada pelos pais durante estas circunstâncias irá servir de exemplo à criança para aprender a autorregular-se no futuro.

“Os pais devem manter-se calmos. Se a criança detetar sinais de alteração nos pais, não irá favorecer a autorregulação”, explica a pediatra. Os cuidadores devem também “desviar a atenção da criança”, afastando-a da situação ou do objeto que motivou a birra.

No entanto, é importante manterem-se “firmes no que estabeleceram como regras e limites”.

“Não devem ceder por a criança estar a fazer birra. Se quebrar a regra, a criança pode passar a utilizar a birra como um mecanismo de chantagem, através do qual pode tirar uma vantagem”, acrescenta Inês Vaz Matos.

Clementina Almeida aconselha os pais a manterem-se por perto da criança, ou seja, “nunca a abandonar”. Numa primeira fase, sustenta, os pais “devem estar ao lado da criança, em silêncio”, pois “a criança está a passar um mau bocado e sentir-se abandonada seria algo ainda pior”.

Uma vez passada a fase da raiva, é “muito importante legendarmos o que a criança está a sentir, porque a criança não percebeu nada do que se passou naquele momento”, acrescenta a psicóloga, lembrando que é também importante dar “um colinho”.

Muitas vezes, as birras são vistas como comportamentos indesejados ou socialmente inadequados, associados a má educação, mas tal ideia deve ser “desmitificada”, afirma Inês Vaz Matos. A especialista sublinha que é preciso “transmitir aos pais que isto é normal”, que “não significa que sejam maus pais, nem que as técnicas de educação usadas sejam erradas”.

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Clementina Almeida conclui que “as birras são coisas sérias, não são coisas sem valor” e que, em determinados aspetos, “a nossa sociedade não é muito respeitosa em relação aos mais pequenos”.

Por fim, importa sublinhar que existem situações que podem motivar o aparecimento de birras – nomeadamente fome ou sono – e que podem ser prevenidas. Por outro lado, o temperamento da criança poderá influenciar também a quantidade e a intensidade das birras.

 

Categorias:

Saúde mental

22 Nov 2022 - 08:00

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